► OKKIRAI — THE YOUKAI WORLD

Bem vindas, bem vindas.
Ó criaturas banidas, filhas do caos. Aqui jaz o seu mundo, repleto de mal. Das cinzas você veio, e para ela voltará.
Mas não antes de saciar sua sede por destruição, e seu ódio pelos culpados da sua prisão.

Chegou a hora.
A hora de encontrarem os verdadeiros monstros.
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Todo Youkai que não é Shikigami deverá—obrigatoriamente—começar neste tópico. A entrada de personagens que não são Youkais deverá ser explicada com um link embutido para o post anterior que o trouxe até aqui. Se ele veio por adentrar uma fissura ou conjurar um portal, certifique-se de linkar o post aqui presente ao seu prévio onde ocorre a mudança de cenário.

Okkirai é um mundo paralelo ao humano, ou seja, aqueles que entram por uma fissura localizada em Tokyo, irão se deparar com uma versão feudal dessa mesma localização. Isso vale para todos os outros lugares do mundo.

A coleira em seu pescoço a irritava, tanto quanto o tilintar do sino pendurado na mesma. A Kyūbi não sabia o que mais odiava, se era o tecido de couro roçando em sua nuca e goela, ou aquele barulhinho no seu ouvido.

Tlin, tlin, tlin.

A raposa de nove caudas—que agora não tinha cauda nenhuma—pulava de árvore em árvore em busca de uma refeição. Desde que fora aprisionada em Okkirai, junto com os demais de sua índole, cada vez mais ela tinha dificuldades em arranjar uma boa refeição.

Aquela carninha saborosa de humano? Rara. Mais rara do que a aparição de um deus da sorte em sua vida. Okkirai era uma terra quase inóspita de seres humanos e, por isso, se deparar com um era considerado sinal de boa sorte.

Sorte essa que ela não tinha. A Kyūbi não se lembrava a última vez que saboreara um ser vivo além de youkais menores e fracotes. Cansada de vagar de bosque em bosque, a raposa apenas se jogou na grama e suspirou.

Tlin, tlin, tlin.

O sininho foi ouvido novamente. Isso a irritou de forma tamanha, visto que sequer podia deitar sem aquilo lhe importunando. Suas garras foram até o acessório que, ao ser tocado, acabou por gerar uma cadeia elétrica que a deixou paralisada por alguns segundos. Após inúmeras tentativas, a Kyūbi simplesmente rolou para um lado e desistiu.

"Hihih" Riu-se a outra Kitsune baixinho, observando a mais velha do ramo de uma árvore próxima. Parecia estar divertida com as tentativas fúteis da raposa para se ver livre do sino que acompanhava a sua forma humana.

É claro, também Nagisa já passara por isso antes. Num passado não tão distante quanto deveria, a raposa passou por um sério dilema: o guizo ao seu pescoço era fofo, mas irritante. Por vários vezes ela retirou-o e voltou a vesti-lo, indecisa sobre se deveria mantê-lo ou não. A certa altura, contudo, aprendera a movimentar-se de forma tão suave que o seu som era praticamente inaudível. É claro, ela pelo menos não tinha nada preso na orelha, o que era sempre uma mais valia.

Se entretinha observando a mais velha, pouco se importando se seria descoberta mais cedo ou mais tarde.

Distraída em meio a própria desgraça, a Kyūbi jurou ter ouvido risadinhas ao longe. Ela parou de sacurdir-se de imediato, atenta à sua volta. Seria um predador? Um humano? Algum fantasma sem graça e irritante?

Ela ainda não sabia, mas não demoraria a descobrir. O tilintar de seus sinos não ajudavam em nada sua furtividade. Odiava tanto aquela desgraça que, por vezes, tinha a vontade de arrancar a cabeça fora.

A Kitsune de cabelos negros olhou em volta, os grandes olhos dourados atentos em meio as árvores. Suas orelhas balançavam de um lado para o outro no intuito de identificar a origem do som. Foi então que enfim captou a presença de um indivíduo indesejado em um ramo de árvore próximo.

Com um sorriso malicioso nos lábios, a morena energizou uma pequena bola elétrica nas mãos. Não era lá grande coisa, mas seria o suficiente para assustar a criatura ou até mesmo derrubá-la da árvore.

O silêncio permeou o local por alguns instantes, até que a Kyūbi subitamente virou-se na direção de seu alvo e arremessou duas pequenas esferas de uma vez só.

"Vai rir da puta que te pariu!" Rugiu, raivosa.

Deu um salto quando viu as esferas subitamente voando na sua direção - não um reflexo, mas sim um susto que a fez escorregar do ramo e cair no chão. Para sua sorte, ela conseguiu sempre se forçar a dar um giro no ar e cair com os pés no chão, salvando uma possível dor na bunda e sua dignidade destruída.

"Hey, mocinha" Resmungou, torcendo o nariz "Não aprendeu boas maneiras não? Jogar esferas de energia nas pessoas que riem de sua desgraça é feio."

Cruzou os braços, esperando um pedido de desculpas. Ou talvez não esperasse, mesmo. Era um pouco difícil compreender suas verdadeiras intenções.

"Mocinha é a puta que te pariu também!" Rosnou, mais irritadiça do que antes. Os punhos pequeninos estavam embebidos por uma energia azulada.

As palavras daquela kitsune inferior a tiravam do sério. Estava tão puta que não conseguia parar de trincar os dentes e encará-la com um olhar ameaçador.

"Quer conhecer minhas boas maneiras?" A Kyūbi sorriu maliciosa. "Eu vou enfiar elas nessa sua cara de cu!"

E, dito isso, a kitsune rosnou em fúria. Suas garras aumentaram, assim como a energia mística de suas mãos. Os olhos dourados ganharam uma coloração mais avermelhada e todos os seus pêlos eriçaram-se.

A imagem de nove caudas atrás de si brotou subitamente. Elas balançavam para lá e para cá e, assim que a Kyūbi se posicionou para a atacar, um grande e poderoso choque elétrico surgiu em seu pescoço. Ela paralisou antes de sequer chegar próximo de sua vítima, os músculos contraídos e suas forças sendo sugadas para a joia de seu pescoço.

"Argh, maldição, maldição!" Xingava.

A kitsune procurou lutar contra aquele encantamento, mas sua débil tentativa apenas resultou em uma fraca bola elétrica que foi acertada aos pés da outra.

Colocou-se numa posição defensiva assim que viu a aparente pirralha se preparando para um ataque - não propriamente por isso, mas por ter visto a sombra das nove caudas brotando atrás dela. Então aquela era uma Kyuubi? Porque estaria usando um corpo tão ridiculamente infantil?

Porém, as coisas não correram como nenhuma delas parecia esperar. A menina conseguiu acertar o ataque patético no seu pé, que se limitou a dar um suave choque na mais nova. Ela pareceu estar incrédula por uns momentos antes de, finalmente, cair na risada.

"Ai, moça, nunca ri tanto na minha vida!" Afirmou, limpando as lágrimas do canto do olho "Isso foi uma ilusão? É isso?"

"Calada, calada, calada!" A Kyūbi repetia inúmeras vezes. As bochecas avermelhadas de raiva e embaraço. "Se não fosse... se não fosse esse maldito selo eu já teria acabado com sua maldita raça inferior!"

Assim que conseguiu se levantar e recobrar a compostura, a morena tratou de limpar a sujeira das vestes. A face emburrada dava a entender de que, por mais que tivesse desistido de chutar a cara dela, ainda estava puta com a zoação.

"Afinal, por que está aqui?" Quis saber, os olhos cerrados em desconfiança. "Shoo, shoo, vai brincar com algum bakeneko e me deixa em paz. Estou ocupada."

"Oohh? Foi um selo? ~" A kitsune não podia se importar menos com a ofensa que tinha sido lançada sobre si mesma. Talvez ela até reconhecesse que, de facto, era inferior à mais velha, embora nunca fosse admitir tal coisa. "Você quer dizer esses guizos fofinhos aí? Interessante..."

Passou a mão no cabelo, encolhendo os ombros.

"Oh, sabe, as coisas por aqui estão chatas. Enfadonhas." Explicou-se, suspirando. "Nada muda nesse maldito lugar. Eu estava meramente tomando um cochilo quando te vi."

Inclinou-se para a frente, contendo mais uma nova risada. Era muito - muito mesmo - mais alta que a Kyuubi, pelo que era até engraçado.

"Oh, sim, ocupadíssima, consigo ver isso." Concordou sarcasticamente "Há quantas décadas você está tentando tirar futilmente essa coisa?"

"Não são fofinhos." Ela respondeu de forma áspera, virando o rosto. A cada movimento, mais eles tilintavam.

Por mais que não quisesse concordar com a jovem kitsune, a Kyūbi sabia que ela tinha razão. As coisas em Okkirai eram chatas. A cada dia que passava, menos humanos eram vistos perambulado. E isso era, definitivamente, uma falta de sorte.

"De que te importa sua futriqueira?" Ela bufou, portando-se de um modo prepotente. "Eu sei que estou perto de tirar essa coisa de mim e eu juro, juro, que vou me vingar de todos aqueles que me tiraram do sério."

E isso inclui você, murmurou ela, baixinho.

"Olha" Começou a outra, calmamente observando as unhas antes de, enfim, voltar a olhar para a mais velha. "eu não costumo realmente me interessar por muitas coisas. Mas sabe-- você é interessante, no meio dessas coisas chatas."

Encolheu os ombros, dando uma volta sobre os próprios calcanhares antes de se voltar de novo para a garota de aparentes treze anos.

"É, porque isso realmente tem resultado MUUITO bem." Piscou o olho.

Já tinha entrado naquele mundo várias e várias vezes, mas aquelas construções antigas continuavam a lher dar calafrios cada vez mais e mais. Lavinia bufou e checou mais uma vez em sua bolsa para ter certeza que trouxera comida tanto para ela, quanto para qualquer youkai que pudesse vir a ser um novo shikigami para ela.

Ou talvez apenas conversar e tentar arranjar algum amigo. Mas provavelmente fazer um contrato com algum youkai e tentar fazer algo de diferente.

A súbita aproximação da outra kitsune fez a Kyūbi estufar o peito na tentativa de aparentar mais alta e intimidante. Por mais que estivesse presa em um corpo de lolita, a raposa de nove caudas sabia muito bem jogar aquele jogo.

Com uma súbita mudança de olhar e um sorriso malicioso nos lábios, ela andou até próximo da mais velha e depositou o dedo indicador nos lábios em um gesto sugestivo.

"Você, por caso, estaria dando em cima de—"

Foi então que sua fala foi interrompida quando ouviu um som diferente adentrando em Okkirai. Um portal foi aberto. A Kyūbi estreitou os olhos e moveu as orelhas para ambos os lados.

"Humano." Murmurou. Um leve sorriso nos lábios cresceu de forma tímida, até tornar-se largo e perverso. "Tem um humano em Okkirai."

Tinha uma resposta pronta na língua assim que a garota com aspeto de criança começou com as suas insinuações, mas tal não aconteceu. Um humano parecia ter aparecido. Nagisa estava curiosa para vê-lo, mas já estava sem grandes esperanças.

"Oh, com certeza que daqui a 2 minutos ele já está morto." Afirmou com um revirar de olhos. "Enfim. Vou dar um cochilo de novo - ou não."

Com isso, deu um salto para um ramo de uma árvore, sentando-se nele e ficando a observar os gestos de Kyuubi. Se ela ia realmente dormir um pouco ou iria persegui-la secretamente, isso era um mistério ainda por desvendar, contudo.

Não precisou andar muito para conseguir sentir alguma presença por perto. Entrou com mais convicção ainda no bosque que estava se aproximando, não estava nem com medo, nem com algo a segurando: Lavinia nunca teve noção do que é e o que não é perigoso, nunca teve problema algum com gente no mundo real e não lei em nenhum livro que youkais eram perigo, ou talvez tenha lido, mas simplesmente ignorado já que nunca precisou se preocupar com essas coisas.

A ruiva pegou um chumaço de carne seca dentro da bolsa e ficou com todo seu punho da mão esquerda repleto de comida, enquanto a mão direita segurava a bolsa. "Olá?!" O sotaque romeno misturado fortemente com o japonês era um grande motivo para nunca conversar muito abertamente com alguém, mas ali ninguém deveria conhecer a diferença, então seria algo completamente normal? "Youkai?! Eu sinto sua presença! Eu tenho carne! Podemos sentar no chão e dividir enquanto conversamos! Tenho mais do que isso!"

Realmente, Lavinia não tinha nenhum limite na cabeça, ela não andava cautelosa nem se preocupava em pegar alguma coisa para se proteger.

"Oh, puxa vida!" Gemeu tristemente enquanto agitava o ar demonstrando frustração ao ver tal cena.
Desistiu, por fim de insistir daquela ilusão e observou a kitsune afastar-se, levando consigo o cheiro característico; "Humano, uh? Isso vai ser interessante" sentou-se sob a sombra e aguardou como seria o desenrolar de tudo isso. "...ou catastrófico."
Alimentou instintivamente as suas próprias fantasias e permitiu-se rir um pouco diante de tais atos.

A Kyūbi tinha corrido na direção da humana rapidamente. Sequer se lembrou da existência da outra kitsune. Era como se seu estômago falasse mais alto que sua razão. Mais alto que qualquer coisa. Apesar do barulho irritante de sininho no pescoço, a raposa de nove caudas procurou rastejar-se sorrateiramente através das moitas e muros despedaçados.

Uma humana. Jovem, aparentemente recém-adulta. Cabelos ruivos e uma voz extremamente estranha.

A Kyūbi permaneceu a analisando. Era bonita, o que provavelmente indicava uma sabor mais apetitoso. A Youkai lambeou os beiços, faminta. Ela estava prestes a investir contra aquela desavisada, mas o fato dela estar perambulando como se fosse uma andarilha em um mundo repleto de Youkais a deixava curiosa.

O que ela queria afinal?

"Carne na mão, comida, e mais comida... O que raios essa mulher está tentando fazer?" A Kyūbi não teve tempo de pensar. Ela não demorou a sentir a presença de outros youkais, graças à forma chamativa que aquela louca insistia em prosseguir.

A raposa não tinha escolhas.

Em um salto feroz, ela pulou sobre a humana pelas costas, prendendo-a no chão em seguida. Estava prestes a atacá-la com suas garras, quando subitamente sentira um puxão involuntário para trás—assim como uma terrível caimbrã nos músculos.

A Kyūbi caiu para lado, dolorida, resmungando diversos "mas que porra você tem no seu corpo" enquanto gemia de dor.

Não rodava os olhos para muitos lugares quando começou a sentir a presença de milhares outros youkais, mas não deu atenção para nenhum, na verdade, são um bando de mal-educados, Lavinia chamou uma youkai para dividir a carne seca e conversar. Isso significa que só quer conversar com ela e mais ninguém. Nem que para que precisassem ficar às sós a ruiva precisasse dar algum tapa em todo mundo.

Resmungou alto e deixou toda a caene cair de sua mão com a entrada espetacular que a menininha fizera. Bufou e resmungou ainda mais com a falta de etiquieta. Catou toda a comida e estendeu o pulso na direção de quem quer que tenha tocado nela e a jogado no chão.

"Você não vai desperdiçar comida. Coma." Ignorou totalmente a pergunta que ela fizera e que essa era a primeira youkai. E era momentos como esse que Lavinia curtia alguém que sabia os mínimos de etiqueta.

"Ufufu ~" Riu a outra, que obviamente não tinha, de facto, decidido tomar um cochilo e perseguira a Yako desesperada pela floresta. É claro, era tudo mais fácil estando na sua forma animal, mas por mero capricho decidiu se manter humana.

Suas orbes avermelhadas observavam a cena atentamente, divertidas e curiosas. Auto-humilhações da Kyuubi à parte, aquela humana era particularmente estranha.

A cena que tanto intrigava a kitsune estava possivelmente tomando outros rumos e também tornara-se um tanto quanto complicado poder ver e ouvir o que tanto se discutia com um humano curioso que decidira arriscar sua tão impotente vida se jogando no possível mar de monstros.

Mica levantou-se novamente e bateu com as mãos nos joelhos tirando a poeira, estava decidida em ir ver o que tanto intrigava os demais youkais. Um pouco a contra gosto, caminhou pacientemente por dentro do bosque tentando ao máximo evitar ser vista, não tinha interesse tão débil que a colocasse em risco, no entanto, o cheiro de carne entupiu suas narinas e por fim, se viu escondida esperando com que algo ocorresse.

Encolheu-se perto de um arbusto qualquer, as orelhas atentas às vozes que ali estavam: aquela humana de cabelos rubros tinha uma possível incerteza na voz que a fazia compreender o mínimo que queria dizer, não era medo, talvez, não soube.

Vez ou outra as grandes orelhas peludas se viravam ao alto, mas não relevou - seu estômago roncava alto e se sentiu obrigada a esconder sua barriga com os braços. Não desistiria: aquela humana tinha algo que a interessava.

A raposa não pegou a carne. Ela não comia comida de humanos. Era fedorenta. A morena, então, deu um tapa na mão da humana e cruzou os braços. Ela podia ouvir a presença daquela outra kitsune, como também uma OUTRA que estava escondida em algum lugar. Ela podia ouvir todos eles. Todos rindo, fazendo chacota de si. E isso a irritava. A irritava muito.

Com a carne caída no chão graças ao tapa, a raposa de nove caudas não demorou a pegá-la. Ela pressionou a comida com força, deixando com que sangue escorresse do alimento. Com um giro e um movimento rápido de mão, ela jogou o conteúdo na direção que ouvia a voz da kitsune de cabelos verdes. Já para a outra kitsune curiosa, ela apenas emanou uma bola eletrizada com a mão sobressalente e jogou no arbusto cujo a escondia.

"Vocês todos vão pro inferno!" Bradou, os dentes afiados cerrados em uma expressão furiosa. "Vocês todos serão os primeiros que matarei quando retirar esse maldito selo de mim!"

Já para a humanoa que se encontrava em sua frente, a morena apenas aproximou-se e ficou na ponta dos pés. Ela deu um peteleco em sua cabeça, pondo a outra mão na cintura.

"Eu sou uma Kyūbi. K-y-ū-b-i. Kyūbi no Kitsune. Se não é burra então sabe que eu só como humanos, não esse lixo fedorento que vocês chamam de comida."

Prestava atenção em tudo que acontecia, mesmo que não entendesse nada, mas ela também não queria entender. Ficou olhando à raposinha à sua frente com uma cara intrigada e ignorou qualquer outro youkai ali perto.

Assim que recebeu o peteleco deu um grunhido e tratou de dar um nela também. Bem, Kyubi não conseguiu atacar Lavinia antes e não seria agora que conseguiria, pelo menos esperava. Sentou-se no chão assim que abaixou a mão e começou a tirar mais comida de sua bolsa, desta vez para ela.

"Ah, vocês comem humanos? Se eu trazer alguns comigo e der para você, você me deixa ficar e conversar?" Mordiscou um pouco a maçã, mas na verdade nem sabia se conseguiria fazer, provável que sim, mas Lavinia não tinha a menor ideia do que estava falando. "Você gosta de ficar aqui? E por que você parece tão criança? Achei que todo mundo neste mundo era esquisito."

Mica não tinha certeza do que via e pensava: a pequena raposa ardilosa se mostrava muito muito irritada mesmo com os demais ali presentes. Ponderou um momento sobre isso enquanto sua sanidade ainda permitia; no instante seguinte teve o azar de ver aquele pedaço de carne ser estapeado para longe e voltar para a miúda mão da kitsune. "Mas que raios ela pensa que está fazendo!?", não tardou até sentir em suas narinas o cheiro que tanto a seduzia, mas sentiu-se embebida em sangue percebendo que de fato - respingava algum ali.

Atônita com o cheiro de sangue forte que exalava da carne e agora mão da kitsune, pode sentir os pelos eriçarem-se ao perceber a bola eletrizada correndo em sua direção. Pendeu para um lado, o máximo que pôde sem muita agilidade e sentiu um formigamento passar por seu braço. Não se importou com isso, mas soube assim que deveria recobrar sua atenção a tudo à sua volta.

"Não entendo." Cochichou para si, refletindo e se ajeitava para melhor ver. Mica não era - de um todo - má, apenas curiosa o suficiente para ter noção de até onde colocaria sua vida em risco. "Mhmm... não quero machucá-las. Mas essa humana é muito sonsa"

Dessa vez, ela estava mais precavida. Não esperava que fosse jogado um pedaço de carne crua - de todas as coisas possíveis - na sua cara, mas esperava que de facto algo fosse jogado. Assim sendo, conseguiu desviar daquilo que fora lançado a toda a velocidade na sua direção, mas os respingos de sangue caíram diretamente na sua cara.

Limpou delicadamente o frio líquido escarlate do rosto com nojo, suspirando. Depois, aproximou-se das duas que estavam sentadas, irritada.

"Você é insistente, não?" Inquiriu para a Kyubi, revirando os olhos. "Apenas aceite a verdade. Você está pateticamente fraca e não consegue matar nem uma humana que está tentando te ALIMENTAR."

Soltou um suspiro, juntamente de um sorriso de pena irónico.

Quando a Kyūbi disse a si mesma que estava entediada, ela não esperava que os deuses a castigariam tanto. Já não bastasse seu selo e aquele "tlin, tlin, tlin" em seu ouvido, agora tinha de aturar duas kitsunes e uma humana pra lá de burra.

O que ela queria afinal?

O peteleco que recebeu fez sua teste avermelhar. Ela afagou com ambas as mãos à medida que mantinha uma expressão emburrada. A raposa de nove caudas manteve-se em silêncio diante daquela questão. Mas é óbvio que comemos humanos, ela é burra é?

"Por que você está aqui?" Retrucou, franzindo o cenho. "Você... não é uma humana qualquer."

Foi então que a Kyūbi afastou-se em uma posição defensiva. Poderia ser uma armadilha. Ela conhecia aquele truque. Já haviam feito com ela antes.

"Você pretende trazer humanos, é?" Os olhos dourados estavam fixos na garota. Sua posição de ataque cada vez mais era nítida. Não seria selada novamente. Não seria.

Ela teria reagido, mas, antes que pudesse, a súbita aproximação da outra raposa a assustou. Um músculo de seu rosto contorceu-se em um tique nervoso ao ouvir a palavra "fraca" da boca de uma raposa de apenas duas caudas. Já puta da vida, a Kyūbi não se controlou. Ela avançou na maior, as garras afiadas procuravam arranhá-la, enquanto as presas enormes tinham o intuito de arrancar seu pescoço.