► OKKIRAI — THE YOUKAI WORLD

Assustou-se com a resposta repentina da pessoa, a carga alta de adrenalina fez um grande efeito em si e por um segundo conseguiu impedir que o punho dela pudesse quebrar seu lindo nariz. Suspirou mas ainda não impune, sentiu o puxão o aproximando como se exigisse resposta; cerrou os olhos e estalou a língua.

"Relaxa." Se desvencilhou do aperto e sentou ao seu lado. "Que mancada tu chegar aqui. Qual seu nome? Tá tudo bem?" Essa loucura não poderia ficar maior, deveria achar um jeito de tirar ou conseguir amenizar o problema que era essa fissura. Seja para os outros curiosos de Tokyo, principalmente estrangeiros por toda a festa, seja os youkais do lado de cá que poderia ir para lá. Ai, merda...

Jeanne ficou surpresa com a habilidade do rapaz em desviar de seu soco. Foi muito ágil. Talvez ele tivesse previsto seu ataque. Mas só uma pessoa poderia fazer o mesmo, ou seja, a própria Jeanne. O que só podia significar que aquele bonitão também era fruto da sua mente.

"Você já sabe meu nome, está dentro da minha cabeça afinal." A loira bocejou, enfiando um dedo dentro do ouvido para limpá-lo. "Qualé, fala aí. Que aventura drogada vamos ter hoje? Eu usei LSD pra caramba, então aposto que vai ter algo psicodélico."

Jeanne então sentou-se na grama também. Ela retirou o dedo do ouvido e cheirou, antes de enfim esfregar o conteúdo na roupa distraidamente.

Curvando sutilmente as sobrancelhas, Haji captava atentamente as palavras que soavam um pouco... grosseiras pelo sotaque forte mesclado a voz. Eram muito fortes, diferente do japonês coloquial ou culto, de qualquer forma. Era estrangeira, percebeu, talvez mudou-se há pouco ou simplesmente não perdera o sotaque forte. E que sotaque; em sua mente começou a imaginar isso como um charme em si: pesado, algum sinônimo de erro pelo cheiro forte de nicotina e a aparência desleixada. Achou-a no mínimo, excêntrica ou algo do tipo.

"Hmm, não? Não pertenço à mente de uma adolescente anarquista." Não que, de fato, Haji ainda não fosse um adolescente em seu interior. "Olha, eu me chamo Haji; tu viu aquele... buraco no meio do beco e entrou assim? Sabe alguma coisa disso?" Fez menção de levantar a voz, chacoalhar ou até dizer todos os seus n motivos que a fariam mudar de opinião (isso se sua mente drogada deixasse) a respeito desse segundo plano, mas não o fez por respeito ou seja lá o quê que o fez mudar de ideia.

Tudo bem... agora acho que é a hora de rezarmos para nenhum youkai devorador de humano/hostil apareça por aqui.

Jeanne encarava o grandalhão com uma expressão abestada na face. Sua boca pendia aberta e seus olhos sequer piscavam. Ela só se tocou que ele havia acabado de falar quando viu algo atrás de si, encostado na parede como se fosse uma lagartixa preguiçosa.

A jovem levantou de supetão.

"Ah, que legal... então esse é um daqueles sonhos lúcidos?" Ela deu um sorriso de canto. "Legal, legal. Mas vem cá, você é gostosão, hein? Não me lembro de ter visto alguém como você antes. Achei que a mente não tinha a capacidade de criar rostos..."

Jeanne deu de ombros.

"Quanto à sua pergunta..." A loira passou a língua pelos lábios e enfiou a mão nos bolsos. "Claro que sei. Tá vendo aquela coisa ali na árvore? Você tem que fazer isso aqui, ó."

E, dito isso, Jeanne foi até uma árvore próxima e decepou um galho com as mãos. Como era baixinha, a francesa precisou se pendurar até—enfim—seu peso fazer o galho quebrar. Com a pseudo-arma em mãos, Jeanne andou na surdina até a criatura (ser humano?) que estava encostada no tronco, aparentemente assonada demais para notar sua presença. Ela ajeitou a postura, até que, de repente, lançou um golpe com força na cabeça da coisa.

"Dez pontos, touchdown!"

"Mas que merda foi essa?!" Berrou à loira e logo a empurrou para o lado correndo em direção ao corpo magricela e bastante pálido. Poderia jurar estar morto, mas soube ou pelo menos insistiu em lembrar-se de poucas características de tal raça.

Ai. Meu. Deus. Se aproximou com cautela tirando a mochila do ombro procurando por qualquer coisa que viria a ser útil para a cura desse ser. Não que fosse insignificante, mas não teve certeza qual a classificação racial... daquilo.

"Eu precisava muito ver isso." Murmurou para si enquanto se aproximava mais um pouco do ser. "Foi mal por essa esquisita, quer alguma coisa?" Os olhos de Haji demonstravam tanto brilho quanto uma criança ao receber um doce, era algo extremamente surpreendente.

"Nem doeu, vai. Sua frescona." Jeanne bufou. Ela colocou o galho nos ombros, até ser empurrada pelo rapaz. Teria tropeçado e caído de bunda no chão se não fosse seu ótimo equilíbrio.

"E pirralha é você, ô lagartixa." Ela riu. "Olha só como você é esquisitona, que porra é essa na sua cara? Nunca ouviu falar em creme pra pele?"

Jeanne andou para o lado de Haji, observando com asco a forma como ele tratava bem aquela coisa.

"Qualé, que cê tá fazendo, ow? Você não cuida desses monstrengos, você bate neles." A loira deu um tapa no ombro dele. "Sempre fiz assim nos meus sonhos quando fazia minhas viagens então faça o favor de seguir com o plano, negão."

"Na verdade não se bate neles; doida, eles te comem se o fizer." Exagerou sem medir os limites. "Ainda não sei teu nome; ou tu prefere que eu te chame de esquisitona?"

"Fora do comum, eu acho...?" Respondeu ao ser pálido. "Há quanto tempo está aqui? Há mais algum?" Impediu com que a cachoeira de perguntas se formasse em sua língua e prosseguiu: "Perdão, qual o seu nome?"

Haji estava muito admirado com toda a situação, tirando o fato daquela garota estranha ter atrapalhado grande parte da conversa, sendo violenta sem motivo aparente. Suspirou desanimado pensando em todas as possibilidades que poderiam vir à tona com ela por perto, mas não perdeu as esperanças de poder ter uma boa relação com o ser e quem sabe até - torná-la sua shikigami. É, não é lá uma má ideia, hein.

Jeanne cheirou a axila ao ouvir aquilo, e deu de ombros.

"Por que? Você quer transar comigo por acaso?" A loira riu em um tom jocoso. "Pra tá preocupada com isso, só se tiver querendo foder mesmo."

Suas atenções passaram pro mais alto logo depois.

"É Jeanne." Ela disse, por fim. "Vou dizer só dessa vez então vê se você não esquece, cabeça de merda."

Toda aquela ladainha tava ficando chata, o que consequentemente deixava a francesa entediada.

"Nooooossa, to morrendo de medo dessa coisa feia." Jeanne rolou os olhos ao ouvir o aviso.

Ela Passou a mão nos bolsos, tirando um saquinho plástico com um pózinho branco. Não demorou para jogar na cara da criatura.

"Toma, aberração de circo, me entretenha. Usa isso aí."

"Lamento por toda essa confusão." Se aproximou mais e fez um gesto como se solicitasse o pacote. "Você teria que cheirar isso, e causaria... sensações estranhas." Ponderou por um momento e pôs-se a procurar por algum dicionário.

Era interessante conversar com Kärme, ela era estranhamente amigável e trazia consigo uma quietude característica; Haji pensou se deveria tê-la como shikigami, quem sabe, talvez, por quê não?

"Meu nome é Haji. E eu gostei de você, Kärme. Pegue." Estendeu o pequeno dicionário. "Acho que isso poderá te ajudar a entender melhor algumas das palavras que estamos dizendo, se não entender algo pode dizer."

"Criatura," virou-se para Jeanne enquanto segurava-se para não ser grosseiro. "pode ficar calada?"

"Tá certo então, K-A-R-M-Ê." Jeanne deu ênfase no nome da youkai. "É só vc cheirar tudo até sentir os poderes em suas veias. Quero testar se você é forte como o babacão aqui pensa."

Ao ouvir o tom do rapaz, a loira apenas o encarou... até rir após um breve momento de silêncio.

"Me obrigue."

Pôs-se a ignorar, finalmente aquela outra humana baixinha e que estava a esvaecer com toda a sua paciência. Suspirou e decidiu por fim sentar-se com certa distância de Kärme, mesmo que ela aparentasse ser inofensiva. Nada, absolutamente nada em Okkirai era inofensivo.

"Assim complica." Ponderou por um breve momento com uma de suas mão pendendo o queixo. Sentiu alguns fios curtos da barba roçando nos dedos que causara grande incômodo e irritação. Não me lembro da última vez que fiz a barba...

"Muito bem, Kärme, então, uh..." Houve um silêncio que se atracou em sua garganta impedindo-o de prossegui e sequer escolher as palavras, mas Haji ainda estava muito curioso para poder conter toda essa agitação.

"A ignorância pode ser uma bênção... ou sua ruína, hein. Me conte sobre você."

Um zumbido alto pode ser ouvido por toda Okkirai. Os céus ganharam uma coloração negra, onde, de repente, um enorme buraco de minhoca foi formado. A coisa muito lembrava um rombo espelhado, onde era possível ver vários prédios do outro lado.

Ninguém sabia ao certo por quanto tempo o buraco ficaria no céu. Nem como chegar lá. Alguns animais que voavam próximos eram sugados, assim como as folhas que desprendiam-se das árvores. Se não tivessem cuidado, logo tudo que não tocasse o chão seria levado pela anomalia.

EVENT: Aqueles que entrarem serão transportados para o mundo humano automaticamente. Seja youkai ou humano. Aproveite seu passe livre!

Estava dormitando calmamente por baixo de uma árvore, o ressonar alto assustando alguns seres mais frágeis dali perto. Com uma mexidela da perna ocasional, o que era para ser uma sesta rápida logo havia se tornado num sono profundo. Sonhava que estava perseguindo um frango. Mas é claro, pacíficos sonhos profundos têm a tendência de não durar muito.

Com o zumbido grotesco ecoando nos seus sensíveis ouvidos, o lobisomem logo acordou, grunhindo de raiva por ser desperto tão subitamente. Ao procurar a origem do som, tudo o que encontrou foi um buraco gigante no céu.

Suspirou, perguntando-se o que aquilo significava. De certa forma, lembrava-lhe o lugar por onde sua mestre sempre entrava. O pensamento entusiasmou-o, e logo começou a trepar as árvores à procura de uma forma de alcançar o portal. Queria fazer uma surpresa à sua mestra.

"Putaquepariu, putaquepariu, putaquepariu", pensava Saci, forçando suas pernas musculosas a irem para frente quando tudo o que elas mais queriam era relaxar.

Certo, talvez conjurar um vibrador de ébano no buraquinho de palmito daquele vampiro orgulhoso não tenha sido uma boa ideia. Mas, sinceramente, a cara de ódio dele fora tão engraçada que o gênio não poderia se arrepender.

Em circunstâncias normais, Saci iria apenas rir do trouxa e fugir com o vento. Mas aquele arrombadinho obstinado aparentemente não iria desistir enquanto não cravasse aquelas presas amareladas e nojentas em seu lindo pescoço preto.

Já tentara de tudo: conjurara esterco, cola e penas; fizera ventar bem em seus pés, fazendo-o tropeçar e cair de cara na lama; até mesmo fizera o vibrador atochar ainda mais fundo, de maneira que até a prostituta mais arregaçada se contorceria de dor. E o vampirinho ainda o perseguia. Fedendo, parecendo uma galinha, com lama na cara e um vibrador no cu, mas o perseguindo.

Não estava exatamente preocupado com a tão falada vingança, mas nunca que deixaria aquele merdinha conseguir o que queria. Enquanto pensava em uma maneira a mais para humilhá-lo, voou direto para o portal que ele sequer percebera se abrir, desaparecendo junto a todo o resto.

Jeanne apenas deu de ombros ao ser ignorada. Pra um sonho, as pessoas dele eram chatas demais. Isso, é claro, até um buracão surgir no céu e um monte de gente se jogar nele. Era óbvio que a jovem não ficaria para trás. Sem muito esforço, ela apenas subiu em uma árvore e esperou até que a raíz podre se desgrudasse e fosse sugada para a outra dimensão.

A kitsune soltou um suspiro, um tanto desiludida com a resposta da outra. Porém, ela não parecia estar afim de começar uma briga, assim como Nagisa não tinha paciência para perder tempo com alguém tão inferior como ela. A ruiva parecia ter perdido o interesse e não lhe respondera mais, pelo que Nagisa calmamente guardou o caderninho entre as vestes sem ela ver. Pretendia decifrar aquele idioma estranho algures no futuro. A sensação de um portal se abrindo, é claro, também a atingiu. A garota levantou-se subitamente quando uma sensação ainda mais pesada a atingiu.

"Hmm... Gente?" Soltou, um tanto surpresa quando olhou para o céu "Acho que não foi só um portal que se abriu."

A Kyūbi ficou em silêncio durante todo o falatório. Ela pôde ouvir não só um ruído, mas vários. Era possível deduzir que o grande buraco de minhoca que nasceu no céu não era o único. Muitos youkais não perderam a oportunidade de entrar e desaparecer em um novo mundo. Do contrário dos demais, a kitsune apenas ponderou a respeito.

"Você deveria ir." Disse em um tom monocórdico. "Talvez seja sua única oportunidade de descobrir mais sobre os seres insignificantes. Afinal, não é por isso que ficou perturbando a fracote ali?" Ela apontou para a ruiva.

A Kyūbi deu um suspiro. Ir para o mundo humano talvez não fosse uma má ideia. Talvez... talvez pudesse se encontrar com o indivíduo que lhe tomou os poderes.

"Quer saber? Foda-se." A morena deu de ombros. "Hora de ter minha vingança."

E, com um salto, a Kyūbi adentrou no buraco de minhoca.

Apesar de normalmente ficar irritada com a sugestão, não conseguiu sentir malícia da parte da Kyuubi, pela primeira vez na vida. A kitsune torceu o nariz, desconfiada. Porém, a Kyuubi logo saltou para o buraco e sumiu de vista. Após pensar por uns momentos, virou-se para Mica e Lavinia.

"Beijos, bestas." E deu um salto, seguindo a outra.